Existe
um grande universo lá fora. No espaço, olhando
para esse universo durante os momentos especiais de calma,
longe da agitação do trabalho na espaçonave
e das comunicações com o solo, pude refletir
sobre muitas coisas da vida, e além.
Foi durante um desses momentos que, procurando por explicações
e razões entre estrelas distantes, acabei encontrando
um outro universo, dentro de mim.
A maioria das pessoas passa grande parte da vida procurando
alguma coisa para se identificar como “ser-humano”,
algo importante que possa ser usado para justificar seus esforços
e comportamentos, para associar o seu nome e a sua existência
a essa “coisa”.
Nessa procura incessante, surgem grandes frustrações,
depressões, desespero, mudanças, estresses,
e tantas outras coisas comuns nos dias de hoje. Carros bonitos,
dinheiro, posição, títulos, corpo, beleza,
poder, etc. São tantas coisas usadas para rotular o
que uma pessoa é, ou faz, nessa Terra.
O grande problema é que todas essas coisas passam,
mudam, evoluem. Tudo o que não faz parte, realmente,
do que somos, um dia se transforma. Infelizmente, para aqueles
que se identificaram com essas “coisas criadas pelo
homem”, os momentos de mudança, nos quais essas
coisas desaparecem, são grandes desafios, cheios de
frustração e medo. É interessante pensar
que, no final das contas, nos nossos últimos dias,
a única realidade que importa não são
os carros, os títulos, ou quaisquer outras coisas como
essas. O que realmente importa é o que somos. Você
já viu alguém se lamentar, no leito de morte,
por não ter passado mais tempo no escritório,
ou pelo risco na pintura da porta da sua Ferrari?
A pergunta básica é simples: quem sou eu?
A resposta também é simples: você é
um ser muito especial, um diamante feito para brilhar, para
ser feliz, desde que você não se esconda da luz,
desde que você não se esconda de você mesmo.
Não tente se identificar com nada nesse mundo. Você
não precisa. Você é muito mais do que
isso.
Todos nós refletimos sobre a nossa vida de tempos em
tempos. Isso é saudável e importante para o
nosso aperfeiçoamento pessoal, em todas as áreas
da vida, em especial, para nos tornarmos mais conscientes
do que realmente somos.
O problema é que muita gente, além de se identificar
com coisas materiais, também associa a sua própria
imagem a eventos muito negativos do passado, ou expectativas
falsas do futuro.
Em termos do passado, existe sempre a tendência de se
confundir auto-reflexão com auto-crítica destrutiva,
como se isso fosse te “ensinar a maneira certa de se
fazer alguma coisa” no futuro, ou com auto-humilhação,
como se você deixasse de merecer respeito ou consideração
no presente baseado na sua “auto-avaliação”,
e condenação, por algo do passado.
Assim, a lembrança da própria participação
nos eventos passados vem sempre carregada de desprezo, raiva,
remorso, etc. Isso não é auto-reflexão.
Isso é uma perda de tempo e, na verdade, ao invés
de servir como lição para o aperfeiçoamento
pessoal, acaba funcionando como uma tentativa deliberada de
sabotar o próprio futuro.
Por que?
Primeiro, porque, quando essas pessoas fazem sua “auto-crítica
destrutiva”, ao invés de usarem a experiência
de algum erro passado para desenvolver um novo comportamento
para situações semelhantes no futuro e voltar
o foco para o novo procedimento, elas simplesmente ficam fixadas
no erro. Assim, ficam “passando o filme de falha”
inúmeras vezes nas suas mentes, com grande enfoque
“na sua culpa”, e procurando situações
similares no presente onde possam “exercitar a mesma
falha”. Isso normalmente é chamado de ansiedade,
que é extremamente prejudicial para a performance.
Ou seja, quando tiverem chance, vão repetir o erro!
Segundo, porque, quando praticam “auto-humilhação”,
essas pessoas não estão sendo modestas, elas
estão, na verdade, deixando de brilhar como deveriam,
impedindo o seu próprio desenvolvimento, e negando-se
a dar a sua contribuição, com a sua inteligência
e a sua capacidade, para o bem de todos.
Em termos de expectativas falsas para o futuro, quando alguém
procura se definir ou se identificar com alguma coisa material
ou outra criação humana, como títulos
e poder, ela poderá ter a falsa sensação
de segurança e estabilidade, por algum tempo. Contudo,
como todas essas coisas passam e mudam, haverá um momento
de “perda da identificação”! Um
instante a partir do qual essa pessoa terá que deixar
de ter “aquela identificação” e
identificar-se com outra coisa. Isto é, terá
que deixar de ser “ela mesmo”!
A pergunta é: isso é possível? Claro
que não! Isso só gera confusão e tristeza.
O erro inicial foi a identificação pessoal com
algo que não é, na realidade, a própria
pessoa.
Assim, seja você mesmo, sempre! Identifique seus erros
e acertos do passado. Assuma responsabilidade sobre eles.
Aceite-os, corrija os procedimentos para o futuro, e siga
em frente. Perceba que você não é melhor
e nem pior do que ninguém. Você é você!
Não se identifique com nada que esteja fora do seu
espírito.
Finalmente, lembre-se que pessoas arrogantes são simplesmente
pessoas que perderam, ou têm medo de perder, a sua identificação
(na verdade, não sabem mais o que são) e, no
seu íntimo, sentem-se inferiores, incapazes e revoltadas
com o mundo. Assim, por se sentirem tão inseguras,
oprimidas e sem controle sobre o próprio destino, lutam
desesperadamente para provar a si mesmo que ainda são
“alguma coisa” e que têm poder sobre “alguma
outra coisa”, ou alguém.
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